Memorial em homenagem a Carlos Cardoso

Um memorial em homenagem a Carlos Cardoso foi inaugurado ontem em Maputo, precisamente 10 anos após o assassínio, a tiro, do mais famoso jornalista moçambicano.

Carlos Cardoso é considerado o precursor do jornal eletrónico em Moçambique e foi o jornalista que mais se destacou pela investigação em áreas económicas e políticas do país.

Há uma década, foi assassinado a tiro dentro do seu automóvel, cerca das 18h30, a poucos metros do seu jornal "O Metical", de onde acabara de sair.

Na altura, investigava o maior escândalo financeiro do país desde a independência: o desvio de uma soma aproximada a 144 milhões de meticais do Banco Comercial de Moçambique (BCM).

Nos seus artigos, tinha citado Momade Abdul Satar, conhecido por Nini Satar, e Vicente Ramaya, dois homens de negócios muito influentes em Moçambique.

Após a morte do jornalista, Nini Satar acusou o filho do ex-Presidente da República de Moçambique Joaquim Chissano de estar envolvido no caso. O empresário apontou ainda Aníbal dos Santos Júnior (Anibalzinho), cidadão com nacionalidade portuguesa, como o chefe da quadrilha que executou Carlos Cardoso.

Em 2003, seis pessoas foram condenadas a penas entre os 23 e os 28 anos de prisão pela morte do diretor do jornal "O Metical". Anibalzinho nunca prestou declarações em tribunal, porque durante o julgamento fugiu da cadeia, pelo que foi condenado à revelia.

O tribunal aplicou-lhe uma pena quase 30 anos de prisão por ter chefiado a quadrilha que assassinou Carlos Cardoso e a ser expulso para Portugal após cumprir a pena, por ter nacionalidade portuguesa.

Anibalzinho tem no seu currículo três fugas da cadeia. Entre os anos 2002 e 2004, o prisioneiro mais famoso do país chegou à África do Sul e ao Canadá, países de onde foi extraditado para Moçambique. Depois de mais duas fugas, está hoje encarcerado numa cela do Comando da Polícia na cidade de Maputo.

Durante o processo, Momade Abdul Satar acusou ainda o filho de Joaquim Chissano de ser o responsável pela fuga de Anibalzinho, para o impedir de dar o seu testemunho no caso Cardoso.

Mas não foi só Nympine Chissano quem viu o seu nome envolvido no escândalo. A empresária moçambicana Cândida Cossa viu-se envolvida no caso, o que forçou as autoridades da justiça a instaurarem um processo autónomo.

Devido à lentidão da justiça, ambos perderam a vida sem ser ouvidos: Nympine morreu em novembro de 2007 e Cândida Cossa em novembro deste ano. O processo autónomo ficou sem efeito.

Carlos Cardoso nasceu em 1951, na Beira, centro de Moçambique. Estudou na África do Sul, de onde foi expulso em 1974 por se ter manifestado contra o sistema do apartheid.

A sua carreira de jornalista começou na imprensa oficial, a Agência de Informação de Moçambique, onde ascendeu ao cargo de diretor. Também exerceu atividades políticas, como membro da Câmara Municipal de Maputo.

Num dos seus poemas, denominado "Cidade", escrito em 1985, Carlos Cardoso disse: "À noite quando me deito em Maputo não preciso de rezar, já sou herói..."

Fonte: Lusa – 22 de novembro de 2010