Em homenagem a Zena Abacar: CALOU-SE A VOZ, FICARAM SUAS OBRAS

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Por: Calisto Constantino

Zena Abacar Ali. Cantora de origem macua (Nahara), natural do posto administrativo de Lumbo, distrito da Ilha de Moçambique, um dos patrimónios mundial da humanidade, localizado na província de Nampula. Nasceste a 25 de Agosto de 1949 e deixaste esta humilde terra dos macuas que te viu nascer a 24 de Dezembro de 2017, com os seus 68 anos de idade.
2017, fica gravado indelevelmente na mente dos seus conterrâneos, não só, pelo facto de não poder ouvir mais a sua nova expressão musical, porque como sua enxada, temos a certeza que eternamente gravaria várias faixas para os seus fiéis fãs que no meu entender são todos os moçambicanos, mas pelo facto de também, Nampula, ter perdido a 04 de Outubro deste ano, por assassinato bárbaro, daquele que se chamou do arquiteto das obras do projecto “Warya Wamphula”, Mahamudo Amurane.
Nampula, em 2017, uma história de dor, luto, desentendimentos, odio, pavor, medo e incertezas, aliás, em desacatos… Nampula, acima de tudo, foi palco de planos políticos que se diga violentos.
Não somos peritos em definir quem vai ou quem fica, mas temos e teremos para sempre, eternas saudades dos filhos desta que foi considerada a primeira capital do país, por hora a sua sorte, devido aos incomuns acontecimentos provocados pela ironia do destino.
Sabe-se que, foste uma estrela e diva da música moçambicana e do mundo, que brilhou sobre os céus deste planeta terra. Contribuíste para elevar a cultura e a musica deste país, para alem fronteiras, mas duvida-se, se merecias ou não, ter uma homenagem especial enquanto viva e ou ter benefícios acrescidos como reconhecimento pela sua dedicação durante a batalha da exaltação da sua moçambicanidade, como berço da sua arte de cantar…!
Só para elucidar esse seu contributo, ouvimos durante o seu velório, mensagens lindas e ao mesmo tempo sentimentais, que desenhavam em curtas palavras o teu percurso musical. Foram mensagens dos governantes, políticos e da Associação dos Músicos da Cidade de Nampula. Não sei se estavas inscrita neste último órgão, já que estavas radicada na cidade de Maputo.
Na musica, tal como ouvimos, entraste na década 70, inspirada pelas danças de corda (Nsope), também dançaste tufo, xacaxa e Namahantja… São danças típicas da zona costeira da província de Nampula, onde nasceste. O bicho estava se tornando um vírus…, seguiste para cidade de Nampula em busca de oportunidades, isto em 1977. Em 1981, junta-se aos artistas Gimo Abduremane, Salvador Mauricio e Omar Issá, ai, nasce o conjunto Eyupuro, na qual foste a principal vocalista. E em 1989, viajaste para Suíça, onde gravou o seu primeiro Álbum, intitulado mama Moçambique, o oque mostra claramente que tinhas no coração a sua pátria.
De 2001,2002 para diante, nasceram consecutivamente o segundo e o terceiro Álbuns. Neste período, passaste novamente pela Suíça, Portugal, Brasil e Zanzibar. Ou seja, nos Continentes Europeu, Americano e Africano, respectivamente. Nestes locais, a cultura e a tradição moçambicana, estava estampada no seu rosto, simbolizadas pelo Mussiro, Mulala, a Capulana e o extrato linguístico Emakhuwa, falado maioritariamente no Norte do país e um pouco na região Centro, mais concretamente na província da Zambézia. Assim, brilhava a nossa bandeira vinda de la, O’hipitti ou simplesmente Ilha de Moçambique, de onde veio o nome desta pátria amada e de heróis.
Não sei se na música há heróis ate aqui reconhecidos, mas para mim, você foi um herói. Herói porque não cantavas atoa, tal como tenho ouvido inúmeras músicas vazias ou seja, sem mensagem ate pejorativas que apenas contribuem para a degradação dos valores morais.
Cantaste ophentana, Muanuni, nuno malani, entre outros temas. As suas músicas, não só, traziam e trazem ate hoje, alegria para os m moçambicanos, como também, educavam as boas maneiras de convivência. O amor ao próximo, o combate aos casamentos prematuros, a pobreza, é de entre vários temas que dominavam as suas cancões.
Soube no seu velório, que já foste funcionária da casa cultura em Nampula, sua terra natal, talvez seja por isso, que nos últimos dias da sua vida, preferiste apagar-se nesta província talvez porque contavas com o apoio dos seus velhos colegas, amigos, filhos, netos, irmãos e sobrinhos, que em jeito de despedida marcharam pelas artérias da cidade. Talvez, se estivesses fora daqui, não terias o apoio incondicional que tiveste, porque ainda viva, estando na capital do país, chegavam-nos noticias dando conta que vivias abandonada e na penúria… Pelo seu contributo na arena musical deste canto de Africa, há quem diga que merecias um tratamento diferente…! Quem sou eu para reverter essas tristes noticias! Claro que vontade nunca faltou, mas a minha condição social e económica não passa num buraco de agulha.
Na medida do possível, amigos, familiares, estruturas do governo e os demais, deram-lhe um velório, que não se diga das alturas, mas do jeito que poderiam preparar para qualquer filho amado! Há nos meandros sociais, vozes que de forma sentimental, acham que não devias passar os piores dias durante o período que te encontravas doente; outros, defendem que pelo seu périplo pelo mundo, devias ter deixado uma fortuna a seu favor e a favor da família e pessoas chegadas… Alguns, acreditam que merecias o direito de receber títulos de mérito como uma dos ícones da música moçambicana. Não sei se isso aconteceu e não quiseste partilhar com o seu público (fãs)…!
Mas sei dizer que deixaste uma das melhores heranças de todos os tempos… As suas músicas, nunca saíram das nossas mentes, rádios e celulares…escutaremos ate o fim da nossa vida, porque elas, não só, nos alegram, como também, nos ensinam lições da vida.
Nampula, Moçambique, Africa e o mundo, perderam uma das grandes vozes femininas do momento!
Paz a sua alma, Mana Zena Abacar!

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