Quem é o Advogado do Povo?

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O custo de vida está cada vez mais longe da população; sobretudo aquela população que Produz e no final da colheita é aldrabada e incitada a vender os seus produtos precocemente e a preços muito baixos. A título de exemplo, o milho e a mandioca seca, não falo do amendoim e feijões, numa das comunidades que em trabalho tive oportunidade de visitar, na época agrícola do ano passado, foi comprada entre 2 a 12.5 meticais por quilograma.

Esta população que tenho vindo a citar, que também foi fustigada por chuvas e ventos fortes que chegaram de inundar varias machambas dos camponeses, deixando danos incalculáveis para as famílias, sobretudo, nos produtos que ainda não tinham atingido a sua fase de maduração. Uma parte, destes produtos que resistiram as calamidades naturais, foram vendidas descontroladamente pelos produtores, coagidos pelas balanças que abundam nas zonas comunitárias da minha Província.

O mais agravante, é que estas balanças têm pouca fiscalização, porque a maior parte dos comerciantes/compradores dos cereais, violam-nas, tornando duras para a compra e mais leves para venda de produtos, ou seja, são viciadas num olhar pávido dos fiscais de cobranças de impostos, guiados pelas autoridades locais, refiro-me das Localidades, Postos Administrativos e Distritos, que apenas a meu ver, interessam-se com as receitas, resultantes da Acção dos comerciantes e que outrora, são chamados agentes Económicos Locais e não na advogacia do povo.

Não estou contra a promoção de feiras agrícolas para a troca comercial, cujo objectivo é facilitar os produtores e aproximar cada vez mais os produtos da primeira necessidade ao cidadão. Mas estou sensato, quando nos meses de Dezembro, Janeiro e Fevereiro o considerado mês de fome, e que, por vezes, vai desaguar em Março, mês do meu aniversário.

Fico feliz, porque nasci no mês que acaba à fome e começa a felicidade das famílias camponesas. Entretanto, a minha tristeza inicia no mês que sublinhei acima, quando lá no fundo das comunidades oiço gritos de socorro de não insuficiência, mas sim, falta de comida para aqueles que produzem o que se come em Moçambique inteiro.

Um amigo, confidenciou-me que no Posto Administrativo de Netia, Distrito de Monapo, o farelo que as Industrias moageiras deitam ou vendem para alimentar patos, é visto como “boa” farinha para uma “Alta” Chima com tocossado de Nikussy, um tipo de peixe miúdo que cientificamente chama-se Anxoveta, para alimentação humana.

Há qualidades neste farelo, há também, outros que atribuem nomes tais como, Florbela, aromatizado e ou da 1ª, 2ª e 3ª qualidade. Os preços também não fogem dessa termologia, vão caminhando além do consumidor-produtor. Mas, fazer o quê? É o único recurso!

Falei de Netia, só para elucidar ao amigo leitor, tem tantas outras comunidades do nosso País que sobrevivem na base do farelo, particularmente na Província de Nampula.

Para aqueles agricultores que os chamo da classe “A”, por outra, que conseguiram economizar dinheiro da venda do milho ou outro produto que sobreviveu nas enxurradas, assisti com os meus olhos a comprarem a mesma farinha do milho que venderam a preço de “banana” como se fala na gíria popular, a 50 meticais por quilograma e 1300 meticais 25kg.

O arroz que proveniente do Vietname, China ou India chegou de custar 1150 meticais a mesma quantidade; ao passo que o óleo da cozinha que em 2015 comprávamos 5 litros à 225 meticais atingiu o seu ponto mais alto ao custar 300 meticais. Claro, refiro-me ao óleo de baixa qualidade, Mayaya.

Se o salario mínimo para o funcionário público ronda nos 3000 meticais, onde vamos trazer o dinheiro? Vamos fazer as matemáticas: 1300+1150+300=2750, só para farinha celeste, arroz e óleo da cozinha. Usando a subtração, 3 mil meticais menos 2 mil 750 meticais é igual a 250 meticais. E a água, luz, escola, etc,etc,etc?

Aliás, por onde anda o Ministério da Indústria e Comercio que na minha óptica devia fazer acompanhamento dos preços? Onde estão os membros eleitos que falam de viva voz que são representantes do povo?

Quem é o Advogado do povo? Onde Está o Empregado do Povo?

Com um princípio muito elogiado, o Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, disse na sua tomada de posse, que o povo era o único e exclusivo patrão do seu governo. É de enaltecer este discurso. Mas, parece que os seguidores indicados para lhe representar, não estavam atentos a esse discurso. Porque na minha óptica o normal seria: os empregados defendem os interesses do patrão e da empresa no geral para manter o pão, uma forma de materializar a promessa feita. Penso eu. Mas tudo acontece ao contrário.

Diariamente, assistimos políticos nos órgãos de informação que dizem defender o povo. Uns assistem serenamente a subida dos preços da primeira necessidade, outros desenvolvem acções de ataques a cidadãos civis que debaixo de sol e chuva lutam para o seu sustento. Ataques estes, concentrados no Centro de Moçambique.

Em detrimento de palavras políticas e mais do que a luta pelo poder, chegou a hora de valorizar o “patrão”, advogando os seus problemas e anseios. Porque é este mesmo “patrão” que em 2019 queremos que vá as urnas para votar nas vossas propostas.

Lutar entre irmãos, só faz rir a quem assiste de fora. Porque mais do que uma família unida e em paz, conflito nunca foi caminho de prosperidade numa família. Conflito, traz Pobreza, inutiliza bons planos, provoca pavor no seio das comunidades e impede a produção de comida. Aliás, em guerra, Moçambique nunca irá desenvolver como almejamos!

O diálogo, a concórdia, a reconciliação e a Unidade Nacional, é tudo que o povo quer. Por isso, apela-se em todo toda a pátria amada, um diálogo efectivo e sério, que produza efeitos de Paz e calma do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Indico, que vise juntar forças para controlar esta desastrosa subida de produtos alimentares.

Permita-me dizer, Wiwanana Orera onamuira ovilaka, o que significa, entender-se é muito bom, embora seja difícil.

Mais não disse… Muito obrigado!

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