Paradoxo dos 7 milhões

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Verificamos um artigo publicado na página 6 do jornal Notícias do dia 30 de Março. O artigo diz que o desembolso de cerca de 300 milhões de meticais financiou acima de 6800 projectos tendo gerado 6817 novos empregos na província de Gaza desde 2006.

O CAICC perguntou procurou analisar o conteúdo do artigo em referência e para o efeito perguntou ao Dr Zaqueu SAnde do Instituto Estudos Sociais e Económicos (IESE)se os números de emprego apresentados fazem sentido, e a resposta foi:

Se os dados estiverem correctos, então fazem sentido. Para sabermos se estão correctos precisamos de perguntar outras fontes, confrontar os dados ou mesmo fazer uma pesquisa aturada sobre a questão. Por exemplo, o portal da TVCABO apresenta dados de emprego superiores em relação aos do jornal Notícias (http://www.maputo.co.mz/por/economia/noticias/sete_milhoes_gaza_cria_7_3_mil_empregos). Segundo o portal da TVCABO Gaza criou cerca de 7300 empregos em 7232 projectos aprovados entre 2006 a 2009. Estas duas fontes pelo menos coincidem na média de emprego gerado (um emprego por projecto) e no valor desembolsado. No entanto há uma ligeira diferença no valor de reembolso que é de 10.24 milhões no portal da TV Cabo em vez de 12 milhões do jornal Notícias. Qual é a fonte (mais) credível?

Olhando para os números acima dá para perceber quão insignificantes são os “7 Milhões” na geração de emprego por projecto. Uma média de um emprego por projecto. Mas se olharmos para o emprego global criado penso que já é alguma coisa tendo em conta que esse emprego não existia. Mesmo assim precisamos questionar sobre a qualidade e estabilidade do emprego criado. Será que os empregos gerados são sustentáveis? Que condições de trabalho esses empregos oferecem? Por quanto tempo? São empregos sazonais ou para ano todo? Quem é que realmente foi empregue? Os projectos empregam para além do proponente do projecto? (Aliás o número de emprego é quase igual ao número de projectos). Quão sustentáveis são os projectos dos “7 Milhões” se os reembolsos acontecem à conta-gotas?

Em relação ao custo de criação de cada emprego penso que não há um padrão igual para todas situações. Tudo depende de cada sector, da tecnologia usada, do número de trabalhadores empregues, do valor de investimento inicial entre outras coisas. Por exemplo, duma forma muito crua, o custo de cada emprego na Mozal I foi de mais de um milhão de dólares enquanto que o custo de emprego criado na indústria açucareira até 2005 (período de reabilitação) estava abaixo de 200 mil dólares. Como pode ver tanto num como noutro caso o custo de emprego é determinado por factores relacionados com o projecto. No entanto, é possível dizer, com a devida cautela, que um emprego que custa 44.000 meticais é provável que seja de menor qualidade que o de 1 milhão de dólares.
esmo assim é preciso ver que empresas usam diferentes tipos de trabalhadores dependendo das exigências em termos de competências, capacidades no processo produtivo. A qualidade do emprego numa empresa pode ser diferenciada dependendo se o trabalhador é mais ou menos qualificado e do tipo de funções que exerce na empresa ou na linha de produção.

Mas o ponto central é que os “7 Milhões” não são lá grande coisa na criação de emprego. Pior ainda que a iniciativa não foi concebida estrategicamente. Por exemplo, qual é a ligação entre a iniciativa “7 milhões” com outras iniciativas de desenvolvimento distrital? Qual é complementaridade ou conflito entre a iniciativa e outros programas concebidos centralmente ou ao nível da província?… E depois vem a questão de reembolso que não é nada animadora.

Finalmente, segundo Luís de Brito, nalguns casos “números sobre empregos criados a partir dos 7 milhões são bastante fantasistas”. Isso acontece por exagero intencional ou mesmo por erro de quem reporta ou regista a informação. Ocasionalmente alguns jornalistas não costumam prestar atenção aos números ou têm tido pouca sensibilidade sobre os números. Nesse caso mais pesquisa sobre a questão e adopção de metodologias de análise mais rigorosas poderá nos ajudar a perceber o que está acontecer com o emprego gerado pelos “7 milhões”.

Resposta Zaqueo Sande
IESE

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