PELOS CPRDs, DESDE 2004: Cerca de 50 mil pessoas preparadas para TICS

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HÁ cada vez mais gente tem acesso às tecnologias de informação e comunicação (TICs). Neste contexto, cerca de 50.000 pessoas foram habilitadas para usar estas tecnologias pelos centros provinciais de recursos digitais (CPRDs) e pela unidade móvel de TICs, o que tem contribuído amplamente para a redução do fosso digital entre a capital, províncias e distritos.

Dos oito CPRDs existentes no país, nomeadamente em Gaza, Inhambane, Sofala, Tete, Zambézia, Cabo Delgado, Niassa e em Nampula, destaca-se o da última província, cujo sucesso, em todos os aspectos de funcionamento, é realçado por factor género.

Na maioria dos CPRDs, contrariando o sentimento generalizado, que conota o insucesso escolar com o género, é a rapariga que, de forma surpreendente, mais se destaca na formação em TICs.

No CPRD de Nampula, três mulheres exercem funções de destaque, uma de liderança e as restantes de formação em aplicações de Microsoft Office e atendimento ao cliente, o que é, sob o ponto de vista das relações do género, bastante inspirador para a rapariga que busca na mulher as suas referências profissionais.

“Estou aqui porque gosto e quero aprender… para estar a mexer… e saber fazer outras coisas como navegar e pesquisar…”, disse Tuaifa Assan Mamad, 18 anos de idade, frequentando a 12.a classe, entrevistada durante uma aula de aplicações do Microsoft Office.

Soraia Orlando, 19 anos, 10.a classe, explicou que pretende, com a formação, reunir habilidades em TICs que lhe permitam arranjar um emprego, já que, sem elas, está muito difícil se empregar, hoje em dia. “Pode aparecer uma vaga por aí que só querem quem tem conhecimentos de informática e, aí eu talvez posso conseguir…”, disse.

A jovem realçou o auto-emprego como outra razão que lhe levou a frequentar o curso, dizendo que se tivesse um computador havia de usá-lo para processar textos de colegas de escola, porque assim o exigem os professores, mas que a maioria dos alunos não está em condições de apresentar trabalhos neste formato.

Apesar de a maioria dos estabelecimentos do ensino em Moçambique possuírem salas de informática, sobretudo nos centros urbanos, a capacidade instalada não pode comportar o número de alunos nas escolas.

Existem muitos formadores em TICs no país, mas Nilza Maquia, graduada em Gestão pela Universidade Pedagógica, é a única mulher que conseguiu abraçar a carreira de formadora em TICs na cidade de Nampula, e faz parte de uma equipa de três técnicos ao serviço da formação.

“Há muitas meninas que procuram este curso porque a mulher é que está mais ligada às TICs”, disse Maquia, comentando a desproporcionalidade do género numa das suas turmas, com 20 raparigas contra dois rapazes.

Sobre a capacidade de aprendizagem das matérias, ela frisou que, tal como acontecia em todo o sistema de ensino no país, os candidatos apresentam níveis diferentes de assimilação das matérias, sendo agravante o facto de não haver limitações académicas para o acesso ao curso.

Sobre o seu relacionamento com os outros formadores, ela destacou o espírito de equipa, frisando que havia muita colaboração e actualização profissional, que permitem o acompanhamento permanente da evolução das TICs pelo trio de formadores.

Respondendo à pergunta sobre se o facto de ser a única formadora em TICs na cidade de Nampula não lhe inspirava vaidade, ela disse que não dava muita importância a aspectos de valorização pessoal. “Assédio não falta, mas não me deixo levar”, disse, frisando que não faltava quem a pretendesse recrutar.

A fuga de técnicos, particularmente do sector público para o privado, é um fenómeno muito generalizado no nosso, sendo a área das TICs, por oferecer uma das carreiras mais competitivas no mercado, a que está mais exposta, sobretudo nas províncias.

Numa primeira fase, estas academias foram abertas nas províncias de Inhambane, Sofala, Niassa e Nampula.

Substituição de cobre por fibra óptica melhora desempenho da GovNET

OS administradores de redes de computadores, a serem formados no âmbito das academias CISCO, vão contribuir para dinamizar as comunicações da administração pública nas províncias e nos distritos, através das redes internas de computadores, que existem em quase todas as instituições provinciais e nalgumas administrações distritais.

“Acabamos de visitar todas as instituições e constatámoshaver muita sensibilidade em relação às comunicações, na sequência doaumento de largura de banda e da mudança de condutores de cobre por fibra óptica”, disse Élio Natoto, técnico do CPRD de Nampula, realçando o facto de anteriormente as reclamações por causa de mau desempenho da Rede Electrónica do Governo (GovNET) terem sido bastante frequentes.

“Nessa altura nem conseguiria estar aqui sentado a conversar consigo. Agora está todo o mundo em paz”, disse.

Sobre o impacto da rede nos distritos, ele revelou haver um grande fosso entre a capital e as vilas, decorrente do facto de apenas quatro distritos possuírem redes de computadores, nomeadamente Muecate, Mecubúri, Nacala e Ríbauè.

O técnico lamentou ainda o facto de a maioria das administrações distritais, que não possui redes internas, não poder tirar proveito da GovNET, que já cobre quase todos distritos daquela província, tendo sublinhado que, por regra, a responsabilidade do INTIC, na sua qualidade de provedor de conectividade, é de levar o ponto da rede até à porta dos utentes, que por sua vez devem garantir as condições para a distribuição interna da conectividade.

Sobre as razões de umas administrações terem redes internas e outras não, Natoto disse que isso se devia a diferenças de sensibilidades entre titulares dos órgãos locais no que diz respeito à importância das TICs como ferramenta de trabalho.

“Algumas administrações já têm o ponto da GovNET há muito tempo, mas não possuem redes internas. Isto se deve à falta de dinheiro, porque não é planificado para as redes, tendo em conta que não são consideradas prioritárias ou porque não há sensibilidade sobre a matéria”, comentou.

“Nós recomendamos sempre aos utentes da GovNET para fazerem a expansão das redes internas ou instalaremwireless”, prosseguiu, sublinhando que no entanto não tem havido vontade de fazê-lo, e se houver é apenas desejo de momento, porque nunca se materializa, deixando a decisão aparentemente em banho-maria, até que um dia os técnicos do INTIC voltem ao local para bater na mesma tecla.

O técnico destacou o distrito de Mecubúricomo exemplo de implementação efectiva da GovNET, com a rede interna e wireless ao mesmo tempo. Frisou ainda o facto de o distrito ser um exemplo a seguir e a encorajar no que se refere ao uso da rede do Governo, porque se preocupa com as suas comunicações, reportando ao CPRD as ocorrências do dia-a-dia.

“Mas há distritos que ficam silenciosos perante problemas de funcionamento da rede, e somos nós que devemosligar, de vez em quando, para saber como é que as coisas estão a andar”, disse, acrescentado que “quando ficamos sem a corrente eléctrica e as comunicações vão abaixo, eles nos ligam imediatamente para saber o que está a acontecer”.

Na sua opinião, a melhorar forma de ajustar as comunicações do Governo às condições dos distritos seria indexar o dispositivo wireless ao programa de conectividade, em regime de sinal aberto, para o acesso livre, devendo, onde a rede tiver sido instalada, fazer-se os reajustes.

Colocar informação na internet o “calcanhar de Aquiles”

ALÉM da questão das redes de comunicação interna nas instituições públicas, com impacto particularmente negativo nos distritos, faltam nesta altura em que o binómio informação e conhecimento é sinónimo de desenvolvimento, a difusão de conteúdos locais através da internet, cuja existência é crucial nesta era de globalização, sendo, dos 67 portais de governos distritais existentes em todo o país, apenas cinco de Nampula, 1,7 abaixo do rácio, que é de 6,7 por província.

Alcides de Sousa, formador de gestores de conteúdos de páginas do Governo, disse, entretanto, que já tinha recebido dois pedidos de distritos para portais, Ribáuè e Monapo, e esperava que, com a integração desses novos distritos, a província conseguisse superar o défice.

Tal como as redes internas de computadores, a questão de actualização de informação das páginas do Governo na Internet constitui o “calcanhar de Aquiles” da governação electrónica em Moçambique e põe a nu o recorrente problema dos papéis dos diferentes actores do Governo Electrónico, porque o INTIC se limita a disponibilizar a plataforma e a assistência técnica, cabendo às instituições produzir, colocar e actualizar os conteúdos electrónicos como parte das suas atribuições e competências estatutárias.

“Existem muitos constrangimentos na gestão das páginas do Governo”, disse de Sousa.

Filas na internet café

FILAS na internet café do CPRD de Nampula sinalizam o crescimento do mercado de serviços electrónicos naquela cidade. “Aqui em Nampula, usam-se muito as TICs e o nosso desafio agora é persuadir o sector público a usar também as suas plataformas de comunicação”, comentou de Sousa.

A sala de internet café está aberta das 8 às 20 horas, com capacidade para 12 pessoas, atendendo uma média de 30 pessoas por dia.

De acordo com Inês Caomba, assistente da sala de internet café, quem mais frequentava o estabelecimento eram estudantes, para pesquisas académicas; mas também baixavam filmes, músicase programas informáticos, escreviam e imprimiam textos.

“A maior parte dos adultos que vem aqui são estrangeiros e vêm para falar com os seus familiares. Aqueles ali, por exemplo, são brasileiros”, disse, indicando dois internautas de raça branca.

Na altura em que escalámoso centro estava também uma outra pessoa adulta que aparentava 40 anos de idade. “Faço os meus documentos aqui, envio para os meus clientes e navego”, disse Juvência Bonde, graduado do instituto industrial e trabalhadorpor conta própria.

Acrescentou que frequentava o local, havia quatro anos, e ultimamente fazia-o com uma média de três a quatro dias por semana. Referiu ainda que tinha internet em casa, mas, para além de ficar mais cara, esgotava e tinha que recorrer sempre ao CPRD, porque ficava perto e tinha um bom atendimento.

“Aqui, é como se estivesse em casa”, disse, frisando que devia haver maior capacidade de espaço porque a cidade é grande e formam-se filas para aceder ao local. Além de proximidade e bom atendimento, o empresário apontou o preço competitivo, que é de 30 meticais por hora, como uma das razões de preferência por centro.

Por seu turno, a assistente da sala enalteceu também a qualidade do serviço para justificar as enchentes, afirmando que a largura de banda está muito maior. “Temos muitas enchentes por causa da velocidade do tráfego, e agora muito melhor do que nunca, porque a largura da banda foi aumentada”, disse.

Se pudesse voltar a estudar faria mestrado em TICs

FORMADA em Gestão e Contabilidade, Isabel Mucalia, gestora do CPRD de Nampula, ergueu consecutivamente três troféus e é líder de uma equipa dinâmica que inclui um trio feminino fantástico com funções de destaque no centro.

Trata-se de troféus de prémios atribuídos em anos consecutivos pela direcção-geral do INTIC, nas categorias de “Melhor CPRD”, “Melhor Formador” e “Inovação”, destacando, o primeiro, aspectos de organização e funcionamento, o segundo, o desempenho nos programas de formação de utilizadores dasTICs, e o terceiro, o desenvolvimento de iniciativas para melhorar o funcionamento do centro, prémios que apenas um número muito reduzido dos CPRDs pode lograr, ao longo dos 12 anos, da sua existência.

Mucalia integrou a equipa de colaboradores do centro em 2008, como assistente administrativa, e em 2011, na sequência da saída do gestor em exercício, que era formado em TICs, foi indicada para preencher a vaga.

Pelo tempo que já está a trabalhar na área e por processos com que teve de lidar, não lhe restam dúvidas. Hoje em dia, se tivesse nova oportunidade de voltar à faculdade, escolheria o ramo das TICs porque, segundo ela, a área não só envolve a tecnologia, como também aspectos sociais e administrativos”.

“Todos os dias aprendo as TICs a partir do trabalho diário que faço”, disse, frisando tratar-se de uma experiência única que lhe inspira voar bem mais alto.

Instada a pronunciar-se, se podia se lembrar de alguns episódios de percurso, ela referiu-se a casos de ausências prolongadas de técnicos, em missões de serviço, o que lhe deixava preocupada, porque, segundo disse, eles podiam pensar que, como era leiga na matéria, não teria como questionar.

“Procurei seguir de perto o trabalho de campo através de relatórios que os técnicos deviam apresentar no fim de cada missão, e tudo ficou resolvido da melhor forma, para sempre”, disse, acrescentando “isto me ajudou bastante, porque tudo estava padronizado, inclusive o trabalho de missões nos distritos”.

Referiu que em meio profissional já era vista como uma técnica, e quando visitava clientes pensavam que ia resolver eventuais problemas técnicos, mas o que fazia era dar conselhos e sensibilizar os clientes sobre aspectos de uso das TICs.

“Sob ponto de vista profissional procuro ser boa gestora e líder ao mesmo tempo, conhecendo cada vez melhor o perfil de cada um dos meus colaboradores”, concluiu.

Basílio Langa – Colaboração

Fonte: Jornal Notícias

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